As ordens do amor
Maria Goreti Miguel Santos
Facilitadora de Constelações familiares
Ordem do Pertencimento
Todos nós estamos ligados aos nossos pais biológicos e nossos antepassados, numa força coesa que une a todos, onde todos devem ser reconhecidos e pertencer ao sistema familiar.
Quem pertence ao nosso sistema familiar? Bert Hellinger observou uma ligação entre os membros de um sistema familiar, que vão além dos laços de sangue:
- Todas crianças, incluindo os natimortos, abortadas ou que foram dadas em adoção;
- Os pais e seus irmãos;
- Ex-companheiros importantes nos relacionamentos anteriores;
- Os avós e as vezes os ex-companheiros deles;
- Todos cuja a morte precoce proporcionou algum benefício aos membros da família, desse modo contribuíram para a sobrevivência da família atual e descendentes;
- Se membros da família foram culpadas pela morte de outras pessoas, suas vítimas também pertencem ao sistema familiar;
- Se há vítimas na família, os agressores também fazem parte;
- Se a família obteve vantagem em detrimento de outrem, o prejudicado também pertence ao sistema.
Por mais estranho que pareça, e que alguns laços não façam sentido, lembramos que o clã familiar busca sempre reconhecimento e reconciliação. Deste modo, a consciência coletiva do clã considera todos pertencentes para manter a integralidade e sua plenitude.
Na ordem do pertencimento todos os membros devem ser incluídos, mas como e quando excluímos os membros do nosso sistema familiar? Excluímos, quando menosprezamos um membro, ou ainda quando não somos gratos e não honramos quem veio antes de nós. Isso gera um desequilíbrio no sistema familiar e pode ser percebido num membro posterior, que imita por lealdade, sem perceber e sem conseguir evitar, numa busca inconsciente para incluir o excluído.
Há uma necessidade latente para reestabelecer a ordem e reparar a injustiça ocorrida. Essa ordem é impulsionada pelo desejo coletivo do sistema, que busca salvar e restaurar a integralidade do grupo. Nesse sentido, há uma necessidade de que um membro posterior possa reparar essa injustiça, ele rememora, num processo de identificação e alertando para algo que está em desiquilíbrio.
A Constelação Familiar é uma ferramenta que nos ajuda a olhar para isso e buscar o equilíbrio e caminhar com mais leveza sem o peso do passado.
A Ordem da hierarquia
A segunda ordem do amor é a hierarquia, ou seja, existe uma organização orientada pela precedência. Assim, os pais têm precedência aos filhos e entre os filhos há uma ordem de chegada.
Os sistemas também têm a sua hierarquia. Os sistemas de origem têm precedência ao novo sistema quando se forma, mas os novos sistemas têm prioridade.
Quando a hierarquia é desrespeitada, um membro da família pode assumir o papel de outro membro, claro que inconsciente, e eleva-se acima e assume o destino de outro. Encontramos aqui a desordem na hierarquia. Exemplo: Quando os filhos se julgam superiores aos pais, julgando-os, culpando-os.
Na Constelação Familiar essa dinâmica pode ser observada, promovendo a reconciliação, desta forma, cada um ocupando seu lugar de direito e seguindo seu próprio destino.
“Ao se constelar, a ordem é restaurada e, assim, obtém-se o pré-requisito espiritual para o sucesso na vida. No entanto, é o próprio cliente quem tem de implementar essa ordem, pois a constelação não substitui a própria ação.” (2020, p.156)
Ordem do dar e receber
Nas relações deve existir um equilíbrio entre o dar e o receber. Quando recebemos ou damos alguma coisa sentimo-nos obrigados a compensar de maneira correspondente, para nos sentirmos livres e equiparados. Não é geralmente assim, quando somos presenteados? Quando recebemos um presente, queremos retribuir o que ganhamos.
Quando sempre dou mais do que o outro pode retribuir, a relação fica em desequilíbrio que pode gerar um distanciamento. Sabe aquela fala? Eu dei tudo para ela(e), e ela(e) me virou as costas? Porque houve uma doação maior do que deveria e o outro não consegue retribuir na mesma proporção. Há uma necessidade nas relações de compensação e restituição, assim o resultado é um aprofundamento do amor.
Na relação com os filhos essa compensação é diferente, pois os pais dão e os filhos recebem. Os filhos não podem compensar o bem maior que receberam dos pais: A VIDA. Somente mais tarde, os filhos podem retribuir, dando aos seus próprios filhos ou entregando algo de bom ao mundo.
A ordem de dar e receber interage com a hierarquia, na medida que, quem vem depois deve receber e honrar por isso. Na velhice dos pais, a ordem do dar e receber é invertida. Os filhos dão e os pais recebem, mas cada um no seu papel. Filhos serão sempre filhos (os pequenos) e os pais sempre pais (os grandes).
“Conhecer a ordem é sabedoria, e segui-la com amor é humildade.” (2020, p. 159)
Bibliografia consultada:
Hellinger, B. As ordens do amor: Um Guia Para o Trabalho com Constelações Familiares; tradução Newton de Araujo Queiroz. São Paulo. Cultrix, 2007.
Schneider, J. R. A prática das constelações familiares; tradução de Newton A. Queiroz. - Patos de Minas, MG. Atman, 2007.
Hellinger, B. Meu trabalho. Minha vida. A autobiografia do criador das Constelações Familiares/ com Hanne-Lore Heilmann; tradução Karina Jannini. São Paulo. Cultrix, 2020.
____. A fonte não precisa perguntar pelo caminho: tradução Eloisa G. Tironi & Tsuyuko Jinno-Spelter. Belo Horizonte, MG. Atman, 2019.
Franke, U. Quando fecho os olhos vejo você; as constelações familiares no atendimento individual e aconselhamento: um guia para a prática; traducação Tsuyuko Jinno-Spelter. Belo Horizonte, MG. Atman, 2019.